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Coletivo Tanto-Mar

26/4/2023

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Dia 25 de Abril de 2023 – há 49 anos aconteceu a revolução que significaria a derrubada do Estado Novo, regime que se firmou em Portugal desde a aprovação da Constituição Portuguesa de 1933, redigida em parte há não muitos metros do Salão Brazil, onde se reúnem hoje músicos brasileiros e portugueses para um espetáculo em comemoração a esta revolução que tem uma flor no nome: Revolução dos Cravos.

Reúnem-se em torno dum coletivo de nome sugestivo, Tanto-Mar; a referência à canção em que Chico Buarque celebra a Revolução dos Cravos é clara, mas há também a sugestão de que este mar, que é tanto, não é tanto assim. Desde o seu início, o coletivo veio colocando o tônus de seu propósito na organização de um espaço de encontro para músicos da lusofonia que, sem tal pretexto, possivelmente nunca se cruzariam. E tem resultado.

​Entre quem participa temos nomes consagrados do espaço cultural coimbrão. Mas também há quem por aqui não tenha tradição. Alguns são músicos de rua, outros professores. Há iniciantes e veteranos. Nota-se na diversidade do perfil de quem participa a clara intenção de romper certas barreiras que invibilizam e inviabilizam encontros que, apesar de aparentemente remotos, quando acontecem é como se adquirissem o caráter de uma necessidade quase matemática.


A comemoração do 25 de Abril é o terceiro espetáculo realizado pelo Coletivo Tanto-Mar. Não pôde deixar de frequentá-la a Rádio Pessoas, que, através da figura de Eron Quintiliano, está intimamente associada à sua existência. Para Eron, o coletivo representa um esforço em direção à unidade, à aproximação de músicos de origens diversas, que põe sempre a possibilidade do cruzamento de diferentes visões de mundo. Se cada qual habitaria em princípio seu universo familiar, no encontro despimo-nos da familiaridade e abrimo-nos à troca e à consequente ampliação dos nossos horizontes. A língua portuguesa, é claro, é a substância que atravessa essas trocas.
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​Keissy Carvelli, que foi convidada para esta edição, refere justamente a isto, sublinhando o paradoxo dessa unidade linguística. Por um lado, diz-nos, o português foi durante séculos uma ferramenta de opressão e colonização; mas em eventos como este ele se torna um ponto comum, condição de possibilidade do encontro na diferença. No interior do que já foi uma das mais cruéis imposições coloniais – a língua – hoje, pensa Keissy, podemos encontrar alguns gérmens revolucionários, que nos dão a ver futuro menos opressivo à língua portuguesa e seu uso. Vânia Couto fala-nos também dessas coisas boas de um coletivo assim: surgem novas influências, mútuas influências entre músicos brasileiros e portugueses. Desta “miscelânea de cruzamentos culturais”, emergem novas interpretações que respondem a uma necessidade que tem crescido: a compreensão entre brasileiros e portugueses, tendo em conta o aumento muito significativo da emigração dos primeiros a Portugal, no que alguns chamam da descoberta de Portugal pelo Brasil.
Há muitos músicos de rua a participar do projeto, dentre eles Alex Lima, para quem eventos como este não valem apenas pelo que criam, como também pelo que permitem que surja futuramente. Segundo ele, as ligações criadas em tais espetáculos reverberam para além do coletivo, insinuando em suas sinergias projetos futuros, novas ideias musicais. Trata-se de uma ferramenta que não vale apenas por aquilo que cria imediatamente, mas pelo que é capaz de fomentar, diz Alex. Além disso, o sucesso de público de todas as edições tem mostrado que há espaço para tais iniciativas – as pessoas comparecem para ver o resultado!

​Miguel Cordeiro menciona que é muito importante que o coletivo tenha trazido artistas de rua para os palcos de Coimbra.
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​Ricardo Brito pensa que o projeto devia se expandir ainda mais. Para ele, a essência do projeto é ser capaz de dar voz aos artistas, e na sua vocação para incluir sempre mais músicos que queiram participar.

Luís Nunes dá boas-vindas a um projeto que “finalmente procura unir a comunidade de músicos brasileiros e portugueses”, algo que ele vê como fundamental para a evolução da própria música portuguesa. Nesta simbiose de personalidades, aprendem-se novas maneiras de estar, novas sensibilidades estéticas e nutrem-se outros sentimentos.

Felipe Barão também vai nessa direção: há momentos que, para ele, nem dá mais para dizer o que é português e o que é brasileiro. Eis a “amálgama”, palavra que Barão usa para definir o que acredita ser a metáfora central da iniciativa. Além disso, Barão tem também uma visão mais pessoal da questão: é um encontro de pessoas que produz novos aprendizados, é uma troca de experiências pessoais em torno de um coletivo. E é assim que para ele a coisa pode funcionar como funciona. Na amálgama, coisas distintas se misturam e se transformam em algo novo.

Tiago também pende para aí: partilhar experiências, conhecer outras abordagens musicais, novas pessoas, nova música. Eis o acrescentar mútuo.


No início, Luis Formiga via isto como mais um projeto a que foi convidado, mas desde o fim do primeiro concerto do coletivo, ele percebeu que era mais do que isso. Diz-nos que sempre teve forte relação com a música brasileira, mas que já havia algum tempo que estava um tanto afastado dela. O projeto fê-lo voltar aos ritmos brasileiros. Para ele, há algo de curioso na organização do evento, pois ele não pôde prever a energia dos concertos pelos ensaios. É como se, quando subissem no palco, as pessoas adquirissem ainda um outro ânimo, que não se deixava entrever nos ensaios.

​Pedro Renato é bem sucinto nas palavras que dedica, ainda que seja uma sucintez carregada de entusiasmo: um Sol maior para Si, amigo!

Quem vos escreve também participa do coletivo. É complicado dizer sobre aquilo de que se participa sem soar enviesado, ainda mais quando se é encarregue de transpor as palavras de outrem para um texto coerente. Os textos da Rádio Pessoas Frequenta raramente transcrevem ao pé de letra o dito pelos entrevistados, preferindo arriscar a paráfrase, para fazer tentar unir a boca do entrevistado ao ouvido de quem entrevista. Contudo, tendo em conta que neste texto seria eu também um entrevistado, dou-me a exceção de deixar transcritas, tais quais foram enviadas, as palavras de Rita Maia sobre o sucedido, pois elas expressam bem por outra boca o que eu não poderia, sem suspeita, falar pela minha própria:
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O espaço de encontro entre criativos prevê-se sempre repleto; de mensagens, de improviso, de novos brotos. O Colectivo Tanto Mar trouxe consigo o privilégio de aproximar universos pessoais unificados pela irmandade linguística. Mas fez muito mais que isso… criou laços emocionais que extravasam o palco, convidando todos os públicos a recordar, numa só voz, cancioneiros que nenhum mar separa. Um abraço feito de música, músicos e cultura(s) com portas escancaradas.
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Texto:   Pedro Ribeiro
​Fotografia:   Pedro Bairras

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