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Micrologus   Studio

23/3/2023

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​Está a se desenvolver um novo estúdio em Coimbra. Um estúdio que começa do longe para o perto: primeiro, projetos internacionais, depois a ocupação da sua cidade natal, Coimbra. Conversei com Ivo Simões e Guilherme da Fonseca sobre o processo de emergência e consolidação da ideia do Micrologus Studio.
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​Os dois vêm de experiências e aptidões distintas. Guilherme está mais focado na composição e pesquisa musical. Cresceu rodeado das artes, diz. Sua mãe foi professora de belas artes e artista ela mesma, então desde muito cedo Guilherme se acostumou a pensar e fazer arte. Começa nas artes visuais, às quais ainda está ligado. Mas logo inicia sua lenta transição para a música. Um dia na escola pede a uma colega que lhe deixe experimentar o violão. Passa a estudar o instrumento, e não se separa mais dele. Ainda muito jovem ingressa na escola de música Sítio de Sons, aonde passa a aprender também o piano, além do violão. Foi transitando por projetos de metal e post-rock, e atingiu alguma relevância local na banda Cavemen, um projeto de rockabilly que ajudou a fundar. Estudou violão clássico no Alentejo, aonde morou por algum tempo, pela Escola das Artes de Sines. Voltando a Coimbra, inscreveu-se num curso na escola de música Tone, encabeçada pelo guitarrista de jazz João Freitas.
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​Guilherme conta que seus interesses passaram a se voltar não propriamente à educação formal, mas à pesquisa pessoal. Aos poucos, o desejo da composição, contrapontual e polifônica, foi crescendo em seu horizonte. Morando em Coimbra, ajudou a fundar a banda Saracarmen, em que participou no piano. Muitos membros moravam na mesma casa, e Guilherme lembra que essa influência mútua fê-lo estudar teoria musical com mais afinco. Almir Chediak e George Russell fizeram parte do seu cardápio, e aqui começa uma investigação que irá guiar Guilherme aos seus coros de quatro partes e sua relação com a música erudita. A vontade de escrever peças mais complexas e maiores fá-lo voltar à pauta musical. Já a morar na República Prákystão, começa seus primeiros exercícios de contraponto e composição em quatro partes, que depois seriam um dos carros-chefes do estúdio. Entre os livros de Schoenberg, o diálogo de Fux Gradus, Guilherme vai tecendo suas vozes; aqui já percebemos que o Micrologus é um estúdio criativo, com vocação para a composição.

Já Ivo Simões está mais inclinado à parte técnica de gestão do projeto. Interessou-se pela música “apenas como fã”. Ainda tentou cedo aprender o violão, mas não deu continuidade ao seu estudo. Estuda Turismo na Universidade de Coimbra, e até estagia na área, a planear fazer um mestrado em Gestão. Ainda no seu estágio, decide se inscrever no curso de técnico de radiodifusão da Rádio Universidade de Coimbra. Conta que passa a mergulhar no universo da rádio, interessando-se por tudo que está relacionado aos meios que permitem o som acontecer. Não à toa, ainda tira o curso de produção de rádio também pela RUC. E com o contato com o som, vem o desejo de fazer um som. Ivo se inscreve no Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra. RUC e GEFAC coabitam, e os interesses têm poucas escadas de distância. Aprendeu baixo no GEFAC, e hoje é baixista do seu grupo. Sua vida profissional passa a transitar cada vez mais pelo meio do som, da arte e da música, mas Ivo tem temperamento organizado e vocação para a gestão – o que falta a muitos artistas. Não satisfeito com esses mergulhos, inscreve-se em aulas de guitarra de Coimbra, na Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra. Entre GEFAC, SFAAC e RUC, Ivo vai traçando sua contribuição ao ecossistema musical da cidade.

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​Guilherme e Ivo se reencontram na Prakystão depois que o primeiro passou uma temporada na França a trabalhar. Os dois convergem no interesse de fazer acontecer um videojogo em Coimbra, unindo esforços para tentar realizar esse projeto. Guilherme, enquanto na França, investigou sobre modelagem 3D e motores de jogos, voltando ao visual das artes. Ivo tinha interesse em se envolver com projetos interessantes e dar suas aptidões administrativas a coisas de que gostasse. Daí surge o protótipo do estúdio.  Foi o jogo que lhes fez ver a necessidade de angariar recursos, meios para a realização dessa ideia.

​Nesse percurso, passaram a oferecer serviços na internet. Aos poucos, com o sucesso da empreitada, o jogo foi passando ao segundo plano. Eles perceberam que poderiam ocupar alguma faixa no mercado musical, e conseguir recursos para realizar até mesmo projetos pessoais. Unem esforços ainda com outra fundadora e investidora, Mari Fonseca, justamente na época em que suas ideias começam a se voltar para o mercado da música. Neste período, oferecem transcrições musicais, por exemplo. Guilherme conta que transcreveu a trilha sonora inteira de um jogo de Pokémon. Em outro freelance, gravaram um coro na língua neo-khuzdul, língua criada no universo do Senhor dos Anéis. Isso lhes dá experiência, e começam a ambicionar mais. Conforme foram trabalhando, foram “esculpindo seu próprio nicho”, como diz Ivo, enquanto os coros de Guilherme passam a ser muito requisitados. A ambição passa a ser integrar projetos cada vez mais amplos e duradouros, que envolvam não só composição e produção, como também investigação científica. O desejo de colaborar também cresce, e começam a surgir parcerias com outros estúdios, o Camaleão, situado em Lisboa; e o Moebius, estúdio de Buenos Aires.

​Eu lhes perguntei qual, para eles, era o essencial do Micrologus. Para responder a isso, eles falaram de quatro projetos, realizados ou em andamento, por quais têm especial apreço, por representarem o que querem para o futuro. Quem imaginaria que em Coimbra haveria um indivíduo, fora da universidade, a fazer traduções entre diferentes sistemas de notação musical? Guilherme está envolvido no projeto de um investigador que quer trazer melodias árabes antigas à vida. Seu trabalho é, além de trazer antigas melodias para a notação musical corrente, rearranjá-las para quatro vozes, em peças inspiradas pela estética renascentista e barroca. No corpo do artigo, vocês podem ver uma dessas pautas.
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O Micrologus lançou recentemente um trabalho autoral de Guilherme, uma peça de sua composição, arranjada para um “viola da gamba consort”, um tipo de formação instrumental tradicional, em parceria com o maestro argentino Juan Klas. Neste projeto se despejam regradamente anos de investigação musical, entre áridos livros sobre primeiras, segundas e terceiras espécies de contraponto. Pra quem desconhece, o contraponto é uma disciplina musical em que o que se quer é combinar linhas melódicas distintas, mas que soem bem quando tocadas em simultâneo. ​
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​Um outro projeto interessante, diz Guilherme, coloca o estúdio como “ponte para o som”. No momento estão a fazer toda a maquete de uma adaptação musical de um livro infantil alemão, em parceria com o próprio compositor.
Além de tudo isso, o estúdio também está em parceria com o Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ajudando a produzir materiais didáticos sobre filosofia em audiovisual. 
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Quais os planos para o futuro? Ivo diz que quer retornar à sua casa, Coimbra. Expandir o estúdio no seu nível local e realizar coisas fixes na cidade, tentando criar um espaço mais hospitaleiro a projetos diferentes. Guilherme corrobora, dizendo que Coimbra tem uma ótima estrutura e pode ser muito mais do que é culturalmente. A palavra de ordem é: tornar Coimbra melhor para artistas e profissionais da área, dinamizando o circuito cultural da cidade e arriscando fazer diferente. Ivo parece resumir tudo quando diz que a ambição é participar de projetos cada vez mais coletivos, em que a divisão do trabalho contribui realmente para o resultado final: que é o quê? Arte.



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Imagens gentilmente cedidas pelo Micrologus Studio
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