Em entrevista à Rádio Pessoas, Zé Ibarra fala sobre o disco solo, a relação com a estética setentista e sobre a banda Bala Desejo.Texto: Keissy Carvelli Corpo esguio à mostra pela transparência de uma camisa de pele preta, calça branca de cós alto, cabelos aos ombros e um violão ao colo fazendo soar, em acordes dissonantes, timbres que facilmente proporcionam um estado catártico capaz de levar o público às deliciosas nuances de uma mistura fina e única de João Gilberto, CaetanoVeloso, Gal Costa e o swing bailado de Gil. Mesmo que afirme não ter a intenção de fazer soar a estética setentista, é nessa fonte onde bebe e se banha Zé Ibarra – músico tido como a grande promessa da MPB há, pelo menos, uma década quando surgiu no cenário carioca à frente da banda Dônica, junto de outros quatro amigos, entre eles Zeca Veloso, filho mais novo de Caetano Veloso. Na época, com integrantes entre 15 e 19 anos, a banda abriu o Rock in Rio, em 2015 no palco Sunset e, de quebra, contou com a participação de Arthur Verocai. A promessa certamente se realizou e Zé Ibarra mostra a que veio em suas diversas facetas. Em 2022, à frente da famigerada e dançante banda Bala Desejo, foi vencedor do Grammy Latino com o aclamado disco de estreia «Sim sim sim». Também nos últimos quatro anos dividiu o palco com Milton Nacismento. Nos finais de 2022, além de integrar a banda do veterano mineiro, foi o responsável por abrir os shows da turnê «A última Sessão de Música» de Milton, chegando a cantar, em voz e violão, para quase 70 mil pessoas no Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte. A apoteose não parou por aí. Há pouco mais de duas semanas, Zé Ibarra lançou o seu primeiro disco solo, o inusitado e refinado ‘Marquês, 256.’, gravado inteiramente nas escadarias situada no endereço que serve de título ao disco. A ligação afetiva com a tal escadaria do prédio de seu avô – onde passou grande parte da pandemia fazendo pequenos concertos amadores e anónimos – e a percepção de ter aí um apelo midiático interessante, permitiu que Zé Ibarra desbravasse outra de suas diversas facetas: a de intérprete. No disco, afirma Ibarra, «eu quis inaugurar um Zé intérprete porque eu entendi com o tempo que eu tenho muito mais para entregar ao mundo cantando tudo, as minhas músicas e as músicas do mundo». Contando apenas com a voz e o violão, entre as canções interpretadas em ‘Marquês, 256.’ encontramos a belíssima Olho d’água, de Caetano Veloso e Wally Salomão, e San Vicente, de Milton Nascimento. Em uma conversa descontraída com a Rádio Pessoas, Zé Ibarra fala sobre o disco novo, a relação com a estética setentista, o seu processo de composição com a banda Bala Desejo e dispara: «O prazer é a minha regra». Rádio Pessoas: Comparando o disco da Bala Desejo com o seu disco solo, ‘Marquês, 256.’ percebo duas faces distintas, mas complementares. Esteticamente, se eu coloco o disco Sim Sim Sim para tocar, percebo uma mistura de Tropicália embebida em Rita Lee. Já quando dou o play no seu disco solo vou para uma dimensão mais ligada aos discos do Caetano Veloso como Jóia (1975). Essas duas faces são propositais, ou nascem de um processo orgânico? Como se configuram essas duas dimensões? Zé Ibarra: Não é proposital soar anos 70, nunca foi. Na verdade, é até uma coisa que eu quis evitar, porque as pessoas estão muito aptas a apreender qualquer coisa pelo invólucro e não pela coisa em si. Tudo o que eu quero dizer não tem muito a ver com a estética, é mais sobre a matéria prima, que são as canções, as harmonias e as letras. No Bala Desejo existiu também um motivo para soar daquela forma. Era pandemia e a gente quis fazer algo que era o oposto da pandemia. Então a gente se uniu com os músicos, tocamos e gravamos ao vivo como se fazia antigamente. O Clube da Esquina fez assim em 1971 e o que se sobrepunha naquela época era a força da composição e da performance. Então, o Bala Desejo teve esse motivo de ser assim. Já o disco ‘Marquês, 256.’ não tem nada pensado nesse sentido, é uma coisa tão natural para mim tocar o violão e o piano e cantar. Eu quis fazer esse álbum pela minha própria história de passar horas tocando na escada do prédio onde eu vivia, no endereço que dá nome ao disco. Quis deixar esse registro e achei que midiaticamente ficaria interessante, um álbum feito na escada. E foi assim. RP: Neste disco, Marquês, 256, há majoritariamente regravações como, por exemplo, San Vicente, do Milton Nascimento, também Vou-me embora, do Paulo Diniz e Roberto José. Por que essa escolha, tendo em vista que você é também compositor? ZI: Em ‘Marquês, 256.’ eu quis inaugurar um Zé intérprete, porque eu entendi com o tempo que eu tenho muito mais para entregar ao mundo cantando tudo, as minhas músicas e as músicas do mundo. Em algum momento na música brasileira o intérprete era mais importante do que o compositor e em algum momento isso se inverteu. Eu não faço juízo de valor, mas antigamente eu achava que o lugar de compositor era maior, mais louvável. Agora quero me desbravar como intérprete também. RP: E como você vê essa onda recente de atribuir o título de ‘cantautor’ aos compositores que são intérpretes de suas próprias músicas? ZI: ‘Cantautor’ é um nome que deram para uma coisa que já existia. Caetano quando pega e toca ele é um cantautor, Milton já era um cantautor. Mas o cantautor é um sintoma da inversão e dessa hiper valorização narcísica do compositor. É claro que sem o compositor nada acontece, mas tem muita gente que é muito boa e às vezes, por estar embebido nessa coisa de que tem que cantar só composições próprias, deixa de cantar músicas dos outros, dos amigos e de ser um artista muito maior, um artista muito mais interessante para o mundo. RP: Você disse que gosta muito da música brasileira dos anos 70, mas que tenta fugir um pouco dessa estética. Isso me parece um dos grandes dilemas do artista brasileiro contemporâneo, perceber tudo o que já foi feito em termos estéticos e se perguntar: o que ainda é possível fazer? Como você encara esse dilema?
ZI: Primeiro eu penso assim: a inovação pode ser da estética, mas ela pode ser uma inovação também na matéria prima. A Bala Desejo, por exemplo, é uma inovação, mas no âmbito na matéria prima. Esteticamente é basicamente o que já existe em ‘Refavela’ do Gilberto Gil: arranjos bonitos, mudança de clima, tensão, repouso, tem tudo o que eu imagino que tem que ter uma música. Mas a inovação também está na matéria prima. Eu sou muito preocupado com isso, mas não ao ponto de não fazer o que eu quero. Com ‘Baile de Máscara’, música da Bala Desejo, por exemplo, eu vivi em guerra, porque desde o começo eu falei: «isso aqui tem o potencial de ser algo diferente, que não existe ainda». É um frevo funkeado misturado com Abba e quando escuto essa música eu sei que é uma coisa diferente que não existe na Música Brasileira. Eu tenho essa preocupação, mas isso vai se dar no meu laboratório que é uma banda, e o disco solo ‘Marques, 256.’ não tinha banda. No próximo disco, que será com banda, eu vou me preocupar com isso, porque eu vislumbro as produções musicais para que eu tente sempre chegar num lugar aonde eu nunca cheguei, mas se não chegar também está tudo bem porque sempre há o prazer, eu sempre estou sentindo prazer e o prazer é a minha regra. RP: E como isso se mostra no concerto que acabamos de ver aqui no Salão Brazil? ZI: Com essas músicas que eu fiz nesse show o prazer não é no lugar da inovação. O prazer é no lugar do gozo, do drama, ou da voz, da melodia, da harmonia. Já no Bala Desejo é o prazer do novo. São tipos de prazeres diferentes. Mas enfim, eu não sinto essa pressão, eu só sinto vontade de fazer. Porque eu acho também que as pessoas ficam nessa paranoia do novo e eu acho mesmo que elas se desconectam do sentir. E aí fazem esses protótipos de vanguarda que não rola, eu não consigo ouvir, não gosto. RP: E qual a vanguarda na música brasileira, hoje? ZI: A vanguarda do Brasil hoje em dia não está na MPB. Eu diria que o funk é uma vanguarda. O funk é cultura pura. E o funk ele já é. Quando Caetano isola só a base do funk em Não vou deixar, aquilo assenta em mim como linguagem, aquilo existe. O que eu acho doido dessa tentativa desvairada de criar o novo é que em mim não sedimenta como linguagem. Parece mais uma tentativa. O funk não, o funk já é. RP: E o ímpeto de trabalhos paralelos para além da Bala Desejo, como isso funciona? ZI: Na verdade o Bala Desejo é a exceção, nós viemos de trajetórias individuais. RP: E explodiu antes das carreiras individuais de vocês explodirem, como é isso? ZI: Bala Desejo é maior do que todos nós. E que bom. É meu melhor acidente da vida, meu filho indesejado mais querido. E isso se dá muito porque todos nós temos coisas para dizer fora dali e banda também é complicado, somos muito amigos e outras relações além porque às vezes as coisas se misturam (risos). Então é bom também ter essa parte das individualidades, dá um fôlego. A receita está na cara, eu acho muito bonito. Fico emocionado também de pensar que dez anos depois cada um de nós terá vários discos e o Bala Desejo também com outros discos. Tem coisa melhor? Não consigo ver cenário mais legal. RP: Esta é sua primeira digressão deste projeto solo, como tem sentido a relação com o público e a recepção do disco? ZI: Não é o começo para mim, porque eu venho já há dez anos tocando nesse lugar, embora não anunciadamente como turnê. Na verdade, esse é meu lugar de costume: tocar músicas desconhecidas para as pessoas. Que loucura! Porque que eu nunca lancei nada meu, a primeira coisa que lancei foi há duas semanas. Então, esse é um lugar novo. Está sendo bom. Requer um pouco mais de coragem, mas eu já fiz também tanta coisa que tive de ter coragem, tipo tocar essas mesmas músicas num estádio para 70 mil pessoas abrindo a turnê do Milton (Nascimento) sem ninguém conhecer nada, e o público aplaudiu demais. Sinto que eu consigo passar a emoção da coisa, porque eu estou vivendo a emoção da coisa. Então acho que acontece. RP: E o que você tocava há dez anos que hoje você já não tocaria mais? ZI: Ah, coisas da Dônica, minha primeira banda. Tocava mais rock progressivo, agora estou num momento bem específico, é bem voz. RP: E daqui dez anos, o que você vislumbra fazer em música? ZI: Eu quero dança. Eu quero dançar no palco. Chega de ficar tocando, eu quero largar os instrumentos e cantar dançando. E fazer música para as pessoas dançarem. Porque é muito mais gostoso. Aí outro poder emerge, o poder do corpo. RP: O que é Zé Ibarra. Ou melhor: que linguagem é essa de Zé Ibarra? ZI: Eu penso em fonograma, não em música. Fonograma é o retrato da obra, é o quadro, o quadro é um. As ideias do quadro podem ser várias, mas o quadro é um só. Então, acho que meu anseio, meu arauto, seria em algum momento fazer alguma coisa que tenha a ver com o que o Michael Jackson fez no sentido de energia, de onde toca na população. Mas, claro, fazer isso dentro da MPB e flertando loucamente com o jazz, por exemplo, com a complexidade da música clássica, como o próprio Michael Jackson fez. Quero pegar a nova dança do mundo que vem do rap misturando com MPB, em termos de harmonias e melodias, com arranjos que coloquem jazz e música clássica, no sentido das possibilidades de relevos que esses estilos permitem. Quero misturar os ritmos, achar dança onde não tem.
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Banda brasileira celebrou uma década no palco do Salão Brazil e deu spoiler: há disco novo no bolso.Texto: Keissy Carvelli Fotografia: João Duarte O furacão latino Francisco, el Hombre passou por Coimbra com a turnê 10 años, uma celebração em alto e bom tom de uma década de existência da banda. Após percorrer algumas cidades da Espanha, também Lisboa e Porto, em Portugal, a última parada foi no famigerado Salão Brazil e o resultado foi um só: chão, teto e parede pegaram fogo, como sugere a canção da banda brasileira indicada ao Grammy Latino em 2017. Para a vocalista e percussionista Juliana Strassacapa, tanto a turnê quanto o álbum homônimo 10 años representam um «catálogo de sabores» de tudo o que Francisco, el Hombre já fez até o momento. O disco traz ao público releituras das canções que marcaram a história da banda, como é o caso de ‘Triste, louca ou má’ e ‘Chão teto parede’, lançada há uma semana nas principais plataformas digitais. Antes de subirem ao palco do Salão Brazil na sexta-feira (2), Juliana Strassacapa e Mateo Piracés-Ugarte, violonista e criador da banda em 2013 junto de seu irmão Sebastián, conversaram com a Rádio Pessoas sobre os dez anos de trajetória musical, sobre o processo criativo coletivo e ainda deixaram escapar um spoiler: em 2024 vem disco novo por aí. Rádio Pessoas: Analisando a trajetória de Francisco, el Hombre pela discografia, temos um catálogo muito variado de sonoridades se compararmos, por exemplo, o EP ‘La pachanga’ (2015) com o primeiro disco ‘Soltasbruxa’ (2016) e o segundo ‘Rasgacabeza’ (2019). Depois, ainda, veio Casa Francisco (2021), um disco realizado a partir do edital Natura Cultural. Como essa trajetória resultou neste novo disco 10 años? Francisco El Hombre (Mateo): Cada disco que a gente fez até agora teve um recorte. O ‘Soltasbruxa’ (2016), nosso o primeiro álbum, foi o resultado de experiências bastante intensas. Fomos assaltados entre outras coisas que quase acabaram com a banda, então fizemos um disco onde a pergunta era: «se a banda fosse acabar amanhã, qual é o disco que a gente gostaria de deixar?» Foi mais uma tentativa de um apanhado geral da banda. Já no ‘Rasgacabeza’ a gente vinha aprendendo a fazer uma autoprodução e flertando muito com a música eletrônica. No começo era um álbum que iria se chamar 8 ou 80. O 80 era para ser ou o lado intenso e energético da banda, era uma tentativa de fazer um show o mais potente possível, e lado 8 eram as músicas mais calmas. Só que naquela época a gente percebeu que o 80 estava fluindo de uma forma mais orgânica entre nós, então tiramos o 8 e fomos de ‘rasgacabeça’. Já o disco atual, 10 años, foi gravado e produzido em duas semanas e quisemos mostrar o que a gente vem fazendo nestes anos. As músicas mudaram muito no nosso show ao vivo, então quisemos passar isso para o disco. São músicas mais longas, com muita fluidez entre os ritmos, com muita brincadeira com o ouvinte. Não reinventamos a roda neste disco, a gente fez o que é naturalmente nosso. RP: Nestes dez anos de formação da banda, como funcionou e como tem funcionado o processo criativo de composição das canções e de criação dos discos? É um processo coletivo? FEH (Juliana): Aprendemos muito nestes dez anos porque vivemos muitas coisas. Também a Francisco, el Hombre não é só uma banda, não é só um trabalho. A Francisco começou como um bote salva-vidas para todo mundo. Acho que todo mundo estava vivendo um caos psicológico e emocional e fomos entendendo que era um apoio mútuo esse coletivo. Cada vez mais a gente entende como fazer melhor o que a banda pede a cada momento abaixando o volume do ego, fazendo concessões, entendendo e pensando sobre o que faz sentido para o coletivo FEH (Mateo): A gente tem uma tendência a sempre tentar fazer tudo muito coletivamente. Quando vamos compor passamos por muitos processos em conjunto. Dentro do processo da produção fonográfica da música – porque muitas vezes eu acabo assinando –, a gente foi aprendendo que nem sempre todo mundo tem que aparecer ao seu pleno vapor. Então, nessa turnê 10 años cada um tem o momento de mostrar o seu brilho e acho que esse é o grande potencial da banda: tem várias personagens e cada ume tem um brilho que muda totalmente o rumo da banda. RP: E como isso se reflete no show desta turnê? FEH (Juliana): Eu sinto que esse show agora vem com muitos sabores. O ‘Rasgacabeza’ era uma energia caótica intensa e chegava lá em cima o tempo inteiro. Agora a gente foi entendendo outras maneiras de trazer intensidade que não seja só nesse lugar. Então, neste show tem muito ska, muita dançabilidade, tem várias músicas repaginadas. Tem um catálogo de sabores e muitas possibilidades de conexão com a música. O público pode se conectar emocionalmente, pode dançar, explodir, tem muitos sabores. RP: E tem sido prazerosos esses sabores? FEH (Ju e Mateo juntos): Sim! FEH (Mateo): Tem muito mais dinâmica agora. A catarse está completamente lá, só que a gente tem explorado novas dinâmicas. Abrimos também muito espaço para o instrumental que levam a momentos também catárticos. Acho que o instrumental ganha nova vida nesse novo show e isso gera novas dinâmicas. Do mesmo jeito, com brincadeiras, com risadas, com troca, só que tem mais dinâmica. Honestamente acho que é um processo mais profissional e menos ansioso. RP: Quais os planos para o futuro após a turnê ‘10 años’? FEH (Mateo): Temos um disco novo no bolso. Estava pronto já há algum tempo, mas a gente percebeu que deveria, antes, celebrar os dez anos da banda. Porque o que artista independente faz é procurar bons motivos para celebrar bastante. Mas tem muita música por vir ainda, será um disco impactante. RP: Que maravilha, disco novo! E já tem nome? FEH (Mateo): Tem nome, mas isso aí não será revelado (risos). A sonoridade é bem diferente do que já fizemos. Agora a gente está focando nos 10 anos, mas quero dar esse spoiler no sentido que tem mais por vim. RP: Quando o disco será lançado? FEH (Mateo): Ano que vem. RP: E por falar em discos, quais discos/bandas vocês têm ouvido durante essa turnê? FEH (Mateo): Nessa turnê a gente fez seis shows na Espanha e três em Portugal e eu fiquei um pouco impressionado com a minha falta de conhecimento a respeito das bandas atuais destes lugares. Então eu pedi algumas indicações para um amigo nosso de uma banda catalã chamada La pegatina e ele me passou várias bandas incríveis. Por isso, tenho ouvido bastante uma banda chamada Coletivo Panamera, também Mister Quilombo, Valéria Castro. Eu tenho achado incrível conhecer um pouco mais dessa cena contemporânea espanhola que é extremamente interessante. FEH (Juliana): No início da turnê eu estava ouvindo muito James Keenan, vocalista da banda Tool. Depois comecei a ouvir Flamenco, Rumbas e Tango, coisas pelas quais sou apaixonada e me conecto muito com essa onda de Espanha. Mas o que eu mais tenho ouvido agora mesmo são mantras. RP: O que é Francisco, el Hombre uma década após o início da banda? FEH (Juliana): Eu acho que Franciso, el hombre é um universo. Como um universo está sempre em expansão, em contração, em movimento e em transformação, eu acho que tem muita coisa contida nesse coletivo. A gente não é só uma banda, a gente não é só uma família, a gente não é só amigos... A gente não é uma coisa, a gente é muita coisa. FEH (Mateo): Gostei disso! Eu acho que Francisco, el hombre é uma República Democrática Autônoma Itinerante formada por amizades e regida por uma constituição de péssimos trocadilhos. Pedro Coquenão, nascido no Huambo e crescido nos arredores de Lisboa, tem criado e desenvolvido trabalho com Rádio, Música, Dança, Artes Visuais e Plásticas sob o nome de Batida. São raros os seus DJ Sets, num deles, em Londres, tornou-se o primeiro artista Português e Angolano a protagonizar uma sessão do Boiler Room. Somou 5, entre Londres, Paris e Lisboa. Quase todas com um microfone. Tem músicas e remisturas espalhadas por catálogos como a Soundway, Crammed, Fabric, BBE, Beating Heart, On The Corner Records ou a Lusafrica. Gilles Peterson apresentou-o assim num especial dedicado na BBC 6 Music: “There’s certain types of music that come out of Portugal, Lisbon, over the years...! All of this is sort of linked together for me by this one producer who goes by the name of Batida. It’s just on another level in terms of how he presents his show, how he approaches his music making, whether he is Djing or performing live, or adding visuals, philosophically just how he goes about his business.” Alexandre Farto aka Vhils - Festival Iminente “Beyond music, what Pedro brought us to Iminente Festival was the revelation of a powerful voice of artistic resistance, proving to be, an indefatigable archaeologist of lost memories.” Estréia do “Coletivo Tanto-Mar” no último mês de novembro no Salão Brazil, em Coimbra, Portugal. A iniciativa é compsota por músicos portgueses e brasileiros que vivem na cidade de Coimbra, e conta com a direção musical de Sergio Costa reunindo cerca de 20 músicos, intrépretes e instrumentistas. Formado com o próposito de representar a união da música portuguesa e brasileira, e promover as sinergias criativas através de um abraço sonoro que atravessa oceanos. Promovendo as latitudes e a imensidão que é a música dos países de língua portuguesa. De 21 de março a 8 de abril, o Serviço Educativo do Jazz ao Centro Clube / Clube UNESCO Coimbra: Arte, Património e Comunidade abrem Biblioteca da Baixa, projeto artístico de envolvimento comunitário. Numa loja desocupada da Rua Adelino Veiga, haverá diversas oficinas para aprender técnicas de impressão manual, simples e divertidas, como forma de fixar no tempo o que há muito espera por ser partilhado. Os participantes poderão contar com a ajuda de Marei Schweitzer e de Joana Monteiro, que dinamizarão as oficinas para co-criar pequenos e singelos livros, um por história, que constituirão o início de uma Biblioteca da Baixa. Marei é ilustradora e contadora de histórias, proveniente nas colinas verdes da Baixa Saxónia (Alemanha), onde há cerca de 200 anos os irmãos Grimm recolheram os seus famosos contos populares. Por sua vez, Joana é designer gráfica, fundadora do Clube dos Tipos e da Editora dos Tipos, organizando regularmente oficinas de tipografia em Coimbra (em colaboração com a Tipografia Damasceno). Marei e Joana partilham interesse nas experiências humanas e na expressão das narrativas e memórias a elas associadas. As suas práticas são diferentes, mas complementares, acreditando que a Arte pode forjar novas relações e conexões, empoderar as pessoas e valorizar diferentes trajetórias de vida. Ao longo do período de construção da biblioteca, Marei e Joana serão acompanhadas por Sofia Martinho, educadora com interesse no papel transformador das práticas artísticas e do envolvimento comunitário. A Biblioteca da Baixa tem origem numa candidatura conjunta do JACC e da artista alemã Marei Schweitzer que, em agosto de 2021, foi seleccionada para o i-Portunus Houses, projeto-piloto de apoio à mobilidade para artistas e profissionais culturais do programa Europa Criativa. O programa i-Portunus Houses apoia mobilidades centradas na criação, aprendizagem e/ou exploração, potenciando o valor profissional de contactos reais através das fronteiras europeias e a valorização da colaboração entre entidades e artistas de diferentes países europeus. A proposta do JACC foi avaliada por um comité de peritos em mobilidade cultural de toda a Europa e foi um dos 17 projetos seleccionados entre 187 propostas originárias de 36 países abrangidos pelo programa Europa Criativa. A Biblioteca da Baixa vai funcionar na Rua Adelino Veiga, tentando somar esforços à dinâmica ali recentemente introduzida pela APBC - Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (com o projeto COL ECO). Prefigura, também, a futura presença da Bienal Anozero nessa mesma rua (a bienal ocupará o espaço da Biblioteca como suporte para várias iniciativas entre abril e junho). Ao fazer convergir estas intervenções na Rua Adelino Veiga, as três instituições (APBC, Anozero e JACC) visam tornar evidente o papel que a Arte e a Cultura têm no desenvolvimento do território e das comunidades que nele residem e trabalham. Para já, fica o convite alargado à participação na construção da Biblioteca da Baixa. Os participantes interessados poderão obter informação adicional e fazerem a sua inscrição através de formulário disponibilizado no site www.bibliotecadabaixa.pt MAREI SCHWEITZER Marei desenvolve trabalho como ilustradora para revistas, museus e outras instituições (Die Andere Bibliothek, Bajazzo, Beltz und Gelberg, dtv, du, GEO, Hanser, KulturSPIEGEL, mare, Media Vaca). Leccionou a cadeira de Ilustração nas Universidades de Falmouth e Plymouth (Reino Unido). O seu principal foco enquanto professora é o papel do lúdico no trabalho criativo. Concebeu e facilitou oficinas onde os métodos abertos e lúdicos dão origem a viagens criativas, com o objetivo de ajudar os alunos a lidarem com a experiência da “folha em branco”, e tentando fazer emergir, a partir desse embate, projetos autorais de ilustração e storytelling. Actualmente, é Professora Convidada do Instituto de Literatura e Escrita Criativa da Universidade de Hildesheim, na Alemanha, onde explora formas de escrita autobiográfica. Também aqui, o seu principal interesse está na linguagem enquanto domínio do jogo. JOANA MONTEIRO A Joana é designer gráfica e faz direcção de arte. No seu trabalho, reconhece-se uma paixão pela tipografia. Para construção de imagens gráficas faz uso e mistura várias técnicas. Licenciou-se em Pintura e Design de Comunicação (ARCA, Coimbra). Fez o mestrado em Design Gráfico (University of the Arts London). Estudou na Royal College of Art, Londres, onde experimentou vídeo e tipografia tradicional. Colaborou com o atelier FBA., em Coimbra, durante 5 anos. É freelancer, desde 2007, e tem trabalhado, sobretudo, com clientes da área da cultura (TNSJ, Porto; English Touring Opera, Londres; TAGV, Jazz ao Centro Clube e CAPC, Coimbra; Santarém Cultura, CMS). Ganhou o prémio AIGA Justified em 2013; o prémio Sebastião Rodrigues, do Ano do Design Português, em 2014; Communication Arts Award of Excellence 2019. É co-fundadora do Clube dos Tipos, colaborando com Rui Damasceno, da Tipografia Damasceno. Fundadora da Editora dos Tipos, chancela através da qual publicou em 2016 o Manual Prático do Tipógrafo (que recebeu o “Certificate of Typographic Excellence”, Type Directors Club, Typography 38), em 2017, em conjunto com a Xeréfe, Clube Mediterrâneo – doze fotogramas e uma devoração, e em 2019 Tipografia Damasceno: 50 anos. Trabalha em Coimbra, no espaço/ateliê ME S.A. — Mesa Expandida Sociedade Aberta. Saiba mais em www.bibliotecadabaixa.pt |