Cantora, compositora, guitarrista e criadora de aplicativo para o ensino de guitarra, Lika traz na essência o propósito do MATE Festival Texto: Keissy Carvelli Nascida no Cazaquistão e há oito anos em Portugal, a cantora, guitarrista e compositora Lika traz na essência de suas atividades artísticas o propósito do MATE Festival, encontro internacional de música, artes, tecnologia e educação. Lika é a primeira artista a subir ao palco do MATE na sexta-feira, dia 20 de outubro, às 18h, na Lufapo Hub. Lika flerta com essa tríade muito naturalmente. Acaba de lançar o primeiro single em Língua Portuguesa, a canção «Música da barragem», ao mesmo tempo em que mostra ao mundo sua mais nova criação: uma aplicação de ensino de guitarra. Fluindo pelo mundo infinito da música, Lika equilibra seu tempo entre os concertos, o ensino de guitarra e as canções infantis que têm produzido recentemente. Em outubro, dá início a uma digressão pela Alemanha e pelo sul e norte de Portugal com cum concerto que, além da canção mais recente, reúne também as faixas consagradas em Back to zero (2019). A digressão chega a Coimbra ainda em outubro, no MATE, data já aguardada pela cantora que, pela primeira vez, levará suas canções para uma feira de artes dessa natureza. Com referências que vão do jazz a Jimmi Page, e uma trajetória que vai de bandas de punk rock ao Hot Club de Lisboa, Lika deixa-nos adentrar nas histórias de suas origens musicais e de seus processos criativos na entrevista a seguir. RÁDIO PESSOAS: Back to zero é o seu primeiro álbum e acaba de ser lançado. Para aqueles que ainda não te conhecem, conte-nos um pouco essa história que deságua neste primeiro álbum. Lika: É uma longa história, mas vou tentar fazer o meu melhor. Eu quando tinha 11 anos comecei a tocar guitarra, foi meu tio quem me mostrou meu primeiro acorde e foi aí que começou mesmo o meu amor pela música. Não tive aquele problema da vida de escolher o que realmente quero fazer nesta vida. Logo percebi que isto é que é. Depois montei muitas bandas, tocamos punk rock, música clássica em rock, mas a maior parte era sempre música original. Porque acho que a coisa principal para qualquer artista é poder partilhar sua arte, espalhar o que tem dentro. Já gravámos quando vivi no Cazaquistão, mas meu primeiro álbum a sério comecei a gravar em Lisboa, quando entrei no Hot Club. Depois conheci músicos incríveis, montámos um projeto, depois meu professor tornou-se meu guitarrista e começamos a gravar no estúdio dele. RP: E por que Back to zero? Lika: Esse álbum chama-se Back to zero porque é assim como senti-me quando cheguei em Lisboa, era como se eu estivesse deixado toda a minha vida para trás, no Cazaquistão, e comecei a minha vida cá, em Lisboa, em Portugal. Mas gostei desse novo início e gosto de como está a correr. Realmente estamos a continuar com a minha banda, estamos a lançar músicas novas, acabámos de lançar minha primeira música em português, que se chama “Música da barragem”, já disponível em todas as plataformas. Estou mesmo feliz com o processo. RP: E qual foi o ímpeto para esta primeira música em Língua Portuguesa? LIKA: Era muito natural escrever em inglês e na minha língua mãe, o russo. Mas como eu estou cá, em Portugal há oito anos, eu passo a pensar em português. Eu percebo que há algumas frases, maneiras de dizer que são tão bonitas na Língua Portuguesa que se eu dissesse a mesma coisa em inglês já não soaria tão bonito. Eu prefiro deixar aquele pensamento, aquela rima, aquele som mesmo em português. O que acho mais importante é a minha mensagem. Em “Música da barragem” eu tive tanta inspiração, eu a escrevi ao pé da Barragem de Montargil e foi um momento muito importante na minha vida. É mesmo o que estou a sentir ultimamente, que o tempo corre muito rápido, que eu corro muito rápido e que o mundo está a girar com tanta pressa que me apetece parar neste momento e dizer: para o tempo, desfruta essas emoções, esse amor, este momento. Se essa música nasceu na Língua Portuguesa, não quero ter de escrever em outras músicas. E estou a escrever mais e mais músicas em português. RP: Citastes várias frentes de ritmos, do rock ao jazz. Como foi esse processo de construir o disco com todas essas influências que têm e alcançar uma sonoridade própria?
Lika: As influências do meu álbum começaram muito para trás. Eu desde sempre gostei muito da música punk, até do punk rock começando nos anos 1970. Depois houve uma parte da minha vida que eu era louca por jazz, ouvia só jazz e nada mais. E ainda por cima tenho a sorte gigante de tocar com músicos incríveis formados no jazz, mas que gostam de coisas completamente diferentes. Um gosta de hip hop, outro de metal, outro jazz rock. Isso tudo influencia a mim e a nós como todo enquanto estamos a ensaiar e acabamos por dar inspiração um ao outro. Minha maior influência são os grandes guitarristas, por exemplo Mike Sterne, o Jeff Back, o Jimmy Page do Led Zeppelin (o meu primeiro amor da vida) e por causa dele eu sempre quis comprar um Gibson Les Paul (risos). E essas influências sempre mudaram os rumos da minha vida, a maneira como eu penso nas frases que vou tocar. Mas também gosto imenso da música soul, de Joss Stone, por exemplo. RP: Como esse processo criativo se manifesta cotidianamente? Lika: Infelizmente não há nenhuma fórmula para isso. Mas, realmente, às vezes sinto algum tipo de click de algo que faz sentido. E isso é o que eu partilho com meus alunos, eu dou aula de composição e escritura de músicas e claro que a pergunta mais importante é: como é que eu começo uma música? E começas assim, quando sentes que alguma frase que ouvistes faz sentido para ti começas a criar história à volta, porque tudo o que queremos é ouvir uma história. Se vamos olhar para as maiores músicas do mundo, elas são histórias de tipos diferentes de amor (e não estou a falar apenas do amor romântico). Mas também uma das coisas que ensino é que este click não acontece do nada. Para obter esta inspiração este hábito tem de ser ensaiado, tem de ser praticado e o que nós fazemos nas aulas é escrever uma musiquinha pequena todos os dias. Não interessa o que ela vai ser, é um exercício. RP: E para além da canção nova, “Música da barragem”, há outros planos para o futuro? Lika: Eu tenho muitos projetos além disso. Por primeiro, acabei de lançar a minha aplicação de aulas de guitarra (Lika World Academy). De repente surgiu essa ideia, porque dou aulas no meu estúdio, tenho alunos do mundo inteiro (também no modo online) e isso é tão fascinante, tão interessante para mim. Há muitos anos eu nem podia imaginar em ser professora. E agora estou a gostar imenso. A aplicação está disponível em três língua: português, inglês e russo. Além disso, tenho um projeto de música para crianças – que faz parte de um projeto chamado “Bicho de sete cabeças”. E ainda faço os meus concertos. No início de outubro, farei uma digressão pela Alemanha, também norte e sul de Portugal. E, claro, estou muito feliz em ir para Coimbra e fazer o concerto no MATE. RP: Tem muita relação essa sua diversidade artística (concertos, ensino, criação de aplicativos) com o propósito do MATE, que busca justamente incentivar uma economia criativa envolvendo educação, arte e tecnologia. Lika: Música é um mundo gigante, incrível, sem fim. RP: E qual a expectativa para a participação no MATE? Lika: Estou com muita esperança de conhecer lá muitas pessoas, porque acho que pessoas do show, da arte, da música, isto tudo nós carregamos uns aos outros. E às vezes basta uma palavra para ajudar ao outro e eu espero bem encontrar lá novos amigos, pessoas com quem eu possa trabalhar, partilhar mais uma vez minha arte. Estou mesmo feliz por essa oportunidade. RP: E para fechar essa nossa conversa, quero lançar-te a seguinte pergunta, que é também um desafio: quem é Lika? Isto é, em poucas palavras, como tu te defines como artista? Lika: Eu também queria saber o que é que eu sou (risos). Eu sei que eu quero sempre guardar aquela Lika que eu conheci na infância, nunca quero perder aquela menina. Ainda por cima, Lika é o nome curto que a minha família sempre me chamou e por isso passou a ser meu nome artístico também. Eu quero ser só eu, para sempre.
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